O eclipse da razão
Tu que sabes tudo, que julgas saber tudo,
Saberás porque a lua se escondeu cheia de vergonha
E o sol de setembro se apagou de repente?
Eu nunca sei o que é a verdade sobre o mundo,
E menos percebo quem sempre mente.
Mas tu mentes-me quando dizes que o aroma das rosas
É mais forte que o aroma dos cravos,
Ou quando afirmas perentória
Que as tardes de primavera
São mais bonitas que os crepúculos de setembro.
Paz no mundo? Quem me dera!
Que sabes tu sobre os olhos deslumbradas de uma criança
Quando descobre no chão uma boneca abandonada?
Eu também não vi, mas sei de ciência certa
Que pertencera a outra menina que jaz esventrada.
Sim, é como te digo. Sabes tudo e não sabes nada.
Viste por acaso a Morte a chamar-te da janela
Na casa de cartão que já se foi pelos ares?
Sempre usaste palas nos olhos
Para que de uma causa não viesse um efeito.
Imagina que a tua mãe, filha, irmã,
Caía aos teus pés com uma bala no peito!
Então a Morte abraça-te num lento estertor,
abririas a boca num grito tão fundo e tão mudo
Que até os anjos se peguntariam “porquê, meu Deus, tanta dor?”
Talvez eu tenha uma opinião sobre isso,
Mesmo que não seja tão certa como a tua.
Talvez não seja precisa muita ciência, nem feitiço.
Talvez a verdade ande por aqui, obscena e nua!
-------------NOZES PIRES-------22/10/2023
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