IGUALDADE
(Homenagem ao poema Liberté, de Paul Éluard)
Naqueles tempos de espingardas e bastões
Quando as noites eram os dias
E as neblinas cobriam a cidade
Eu escrevia o teu nome nos muros
Sobre o asfalto, no casco dos navios,
Nos bancos nus da universidade,
Na escadaria fria de pedra,
Mesmo à entrada daquele casarão sombrio,
Dos papéis que no peito escondia,
Ou nos olhares trocados subtis
Ou na mão que por baixo da mesa se estendia.
Nas bandeiras de um Império que já não se reconhecia
Nos caixões de pinho que voltavam,
Eu escrevia o teu nome.
No tempo perdido, nas vidas arruinadas,
Sobre os trapos dos mendigos
Sobre os pés nus dos meninos
A quem o professor sovava sem piedade,
Nas celas das prisões, nas tarimbas, no balde,
Nas visitas que não me permitiam
E no olhar de desprezo que me sobrava
Eu escrevia o teu nome.
Nos teus olhos que riam
Como se o futuro não tivesse idade,
Nos meus lábios que fremiam
De desejo nos beijos, nas mãos
Que o teu corpo percorriam,
Eu escrevia o teu nome
Em segredo
Devagar
Meu amor
sem medo.
Eu escrevia.
E quando na alvorada chegou enfim
A Primavera,
a primeira,
Quando as andorinhas anunciaram num alvoroço
Que o cadáver havia sido de vez sepultado,
Eu escrevi o teu nome
Nas pedras da calçada,
Nos bancos dos jardins,
Nas fábricas e nos campos,
Sobre a terra e sobre o mar
Eu escrevi o teu nome.
Sobre a saudade e a Promessa
Na Foz do Rio da minha cidade,
Eu ainda escrevo teu nome,
Igualdade!
Ao lado, numa perfeita harmonia,
Numa razão profunda
Como outrora eu escrevia
Liberdade!
........Nozes Pires....18/12/2023
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