quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

 

 

IGUALDADE

 

(Homenagem ao poema Liberté, de Paul Éluard)

 

Naqueles tempos de espingardas e bastões

Quando as noites eram os dias

E as neblinas cobriam a cidade

Eu escrevia o teu nome nos muros

Sobre o asfalto, no casco dos navios,

Nos bancos nus da universidade,

Na escadaria fria de pedra,

Mesmo à entrada daquele casarão sombrio,

Dos papéis que no peito escondia,

Ou nos olhares trocados subtis

Ou na mão que por baixo da mesa se estendia.

Nas bandeiras de um Império que já não se reconhecia

Nos caixões de pinho que voltavam,

Eu escrevia o teu nome.

No tempo perdido, nas vidas arruinadas,

Sobre os trapos dos mendigos

Sobre os pés nus dos meninos

A quem o professor sovava sem piedade,

Nas celas das prisões, nas tarimbas, no balde,

Nas visitas que não me permitiam

E no olhar de desprezo que me sobrava

Eu escrevia o teu nome.

 

Nos teus olhos que riam

Como se o futuro não tivesse idade,

Nos meus lábios que fremiam

De desejo nos beijos, nas mãos

Que o teu corpo percorriam,

Eu escrevia o teu nome

Em segredo

Devagar

Meu amor

sem medo.

Eu escrevia.

 

E quando na alvorada chegou enfim

A Primavera,

a primeira,

Quando as andorinhas anunciaram num alvoroço

Que o cadáver havia sido de vez sepultado,

Eu escrevi o teu nome

Nas pedras da calçada,

Nos bancos dos jardins,

Nas fábricas e nos campos,

Sobre a terra e sobre o mar

Eu escrevi o teu nome.

 

Sobre a saudade e a Promessa

Na Foz do Rio da minha cidade,

Eu ainda escrevo teu nome,

Igualdade!

Ao lado, numa perfeita harmonia,

Numa razão profunda

Como outrora eu escrevia

Liberdade!

 

 

........Nozes Pires....18/12/2023

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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