A CABEÇA
PERDIDA DO IMPERADOR
Era uma vez um reino muito poderoso. Esse reino tinha um imperador muito
mau. É normal que tal suceda quando a nomeação é dinástica ou quando as
eleições são controladas pelos requisitos da fama e do dinheiro. Aquele
imperador, portanto, não só era mau como era estúpido. Ninguém se admirou que
certa manhã, nefasta para ele, tivesse despertado sem cabeça. Literalmente
perdera a cabeça. Berrou, uivou, ameaçou meio mundo que iria destruir tudo e
todos se não lhe trouxessem depressa a sua rica cabeça e a sua farta cabeleira.
Os acólitos e a criadagem, os guarda-costas e os espiões, os generais e os
bispos, os biógrafos de serviço e os fantoches governadores dos reinos
dependentes, correram em todas as direções em busca da cabeça do imperador. Foi
encontrada sim, mas por um mandarim que odiava o imperador: ao passar ao pé de
uns saltimbancos que apresentavam um espetáculo de rua para um punhado de
aldeãos esfarrapados e descalços, um ator improvisava uma cena patética com uma
cabeça em tudo semelhante à do imperador. Interrogado pelo mandarim, a troco de
uma bolsa de moedas, confessou que a roubara de uma caravana de mercadores que
se dirigiam sabe-se lá para onde. O mandarim deixou-o em paz, porém avisou-o
que era mais seguro para ele desfazer-se daquela cabeça pois podia a todo o
momento perder a dele.
Incapazes de encontrar a cabeça
verdadeira os agentes do imperador esforçaram-se por substitui-la, não fosse o
reino entrar em convulsão. Deste modo, apresentaram-se-lhe com várias cabeças à
experiência: de um cavalo, de um touro, de um bode, de um burro e de um camelo.
Não se admire o leitor: naquele tempo estes animais eram sagrados. Contudo, não
apaziguavam a vaidade do imperador que desejava ser adorado, sim, mas também
temido. E foi assim que preferiu a cabeça de um crocodilo.
Ficou nos anais dos escribas com
o cognome grandiloquente de “Rei Crocodilo”. Quando, porém, se mostrava ao povo
das alturas da sua tribuna de oiro, o povo fugia aterrorizado pois tomava a
sério aquilo que realmente via: um crocodilo.
NOZES PIRES
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