O Carnaval da comédia
De luxo se disfarçam os pobres,
No sujeito se muda o predicado,
Com a máscara com que encobres,
Inverte-se a virtude e o pecado.
Ó vilão que agora és o senhor
Basta uma coroa para seres rei!
É tudo gozo, é tudo amor!
O que parece é e o não é lei!
Enganador és de fato enganadiço,
O senhor vigia-te servo ou vilão,
Em todas as jaulas o mesmo feitiço,
Em toda a festança o mesmo senão!
A comédia do mundo tal como é
Não deixa de ser o que sempre continua
Por baixo da máscara outra até
Que a realidade seja uma criação tua!
Brinca, infante, ao faz de conta,
Brinca que o mundo sempre recomeça
Em toda a parte, de ponta a ponta,
Sejas tu o ator e medíocre a peça!
Até que o sonho se faça pó,
Brinca aos tronos e andores,
Antes que muitos se faça um só,
Antes que voltem os teus temores!
Dança que a tristeza há de voltar
Mais depressa que em ódio se faça o amor
Mais depressa de joelhos voltarás ao lugar
A menos que a peça seja nova e outro o ator!
Gozam três dias a ingénua e o ladrão,
O súbdito e o tirano lado a lado,
Pois que a vida é um sonho vão
E o presente é a vingança do passado.
....Nozes Pires....18/02/2023
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