segunda-feira, 22 de maio de 2023

Poema- Saudade?

 

SAUDADE NÃO? Talvez sim!

 

Não me tragas a saudade pela mão, deixa-a ficar onde está, no seu canto, sozinha.

Não me tragas a taça de morangos silvestres como se o tempo fosse uma roda que, rodando, voltasse ao princípio!

Não me tragas no luzir maduro dos teus olhos verdes, azuis, ou castanhos,

A lembrança dos longos passeios aos domingos fosse onde fosse, meu amor! Tu, ou tu, ou tu?

Na Foz Velha, provavelmente já não te lembras, já ninguém se lembra, quantas primaveras se passaram? Quantos nomes!

Não me tragas as areias de Matosinhos, a espuma das ondas nos teus pés juvenis, e os “finos” ao balcão da Cufra na avenida da Boavista, os pasteis de bacalhau na Ribeira, as iscas de outros dias, o vinho tinto a pedir uma boca namorada, um trejeito malicioso nos teus lábios saborosos, ó! não me tragas a saudade!

 

Sabes, em mim uma coisa leva à outra e logo são outros os olhos que me queriam decepar a consciência, desvelar o grau do meu compromisso, e sabiam que não era fácil, e sabiam que jamais o conseguiram, vigiavam-me a fala nos comícios mas para eles eu esqueci sempre o que é o falar, só lembrava o peso pesado das palavras que se dizem e que nunca se deviam dizer, mas eles não desistem porque sabem que já triunfaram com outros, há sempre alguém que se perdeu, e, perdido de uma só vez, numa só hora, apenas ele com eles, nunca mais se encontrou , que tempos! Que partidas em que se jogava a alma! Que nos mantinha de pé? O ódio ou o sonho? Tão novos que éramos! Tão dignos que fomos. Alguns.

 

Por isso, não me tragas a saudade, porque uma cosa leva à outra, a alegria e a dor!

 

A seguir àqueles tempos de fúria e silêncio chegaram outros, festivos e primaveris nos quais o tempo foi curto para tanta esperança.

 

Traz-me essa esperança, essa promessa de futuro, não as rosas murchas do passado.

Passeemos de novo pela Foz Velha, as praias de Matosinhos logo ali, e as esplanadas (quanto éramos pequenos não existiam esplanadas e nunca nos vimos ali nos dias do primeiro de maio), o marisco à nossa espera, as belas mocinhas gesticulando ao telemóvel, façamos de conta que é bom e bonito, meu amor. Façamos de conta.

O que perdemos nunca mais o recuperamos, já sabes. O beijo que me recusaste mordida de ciúme, adeus para nunca mais!

 

Basta de lágrimas nas guitarras, basta de soluços nos arpejos, basta de fúrias, ódios e traições!

Trago-te flores de rosas bravas, alfazema e cravos vermelhos, trago-te ramos de oliveira e coroas de louro para adornar a tua cabeça loira ou negra ou branca.

Trago-te lírios, dálias, açucenas,

Trago-te palavras por gastar, por dizer,

Sem remorsos e sem penas!

............Nozes Pires------14/03/2023

 

 

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário