segunda-feira, 22 de maio de 2023

Poema- Chuva

 

 

CHUVA

 

Olha que formoso é o bombardeiro novo que eles inventaram!

A grandiosidade dos seus porta-aviões, os caças furtivos, as bombas de fragmentação,

De urânio, os obuses inteligentes!

Ó como é bela a idústria, o engenho, a astúcia!

Deles, de todos eles, eles, eles, eles.

 

E eu fico a pensar (dói muito pensar!) que o mundo

Está cheio de gente

E eu estou sozinho

Todo aquele que alguma vez se deixa a pensar

Está sozinho

É como quando se morre.

 

Mais débil que o rosmaninho e as malvas entre as pedras dos caminhos de florestas que já se extinguiram, onde ficou o sonho que plantei?

Olhando o horizonte tão exato como uma ilusão, penso que era melhor não pensar.

 

(Onde estou não há nenhuma montanha grande, nenhum rio caudaloso, que pena!)

 

Eles declaram que sabem o que fazem, que tudo que fazem é para meu bem,

Sou tão fraco e eles tão poderosos, tão convencidos e eu tão dubitativo!

 

 (Onde estou neste instante chove, escuto Sibelius, as neves da Finlândia

 Ou de outra lugar qualquer onde a música seja assim: universal!

 Um contraste dolorosamente verdadeiro com um campo de batalha!)

 

E eu que não quero pensar, penso que a vida é curta em demasia

Para quê bombardeiros de prata, navios de oiro,

Minas debaixo de papoilas?

 

(Escutasse Bach ou Schuberth, Saint-Saëns ou Erik Satie e sentiria os mesmos sentimentos

De viajante que se ajoelha quando atravessa um bosque já extinto,

E esquecido de si se julga uma mera sombra, um sopro de vento!)

 

Não sei se falo verdade, se minto,

Neste momento!

 

----Nozes Pires----11/03/2023

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