CHUVA
Olha que formoso é o bombardeiro novo que eles inventaram!
A grandiosidade dos seus porta-aviões, os caças furtivos, as bombas de fragmentação,
De urânio, os obuses inteligentes!
Ó como é bela a idústria, o engenho, a astúcia!
Deles, de todos eles, eles, eles, eles.
E eu fico a pensar (dói muito pensar!) que o mundo
Está cheio de gente
E eu estou sozinho
Todo aquele que alguma vez se deixa a pensar
Está sozinho
É como quando se morre.
Mais débil que o rosmaninho e as malvas entre as pedras dos caminhos de florestas que já se extinguiram, onde ficou o sonho que plantei?
Olhando o horizonte tão exato como uma ilusão, penso que era melhor não pensar.
(Onde estou não há nenhuma montanha grande, nenhum rio caudaloso, que pena!)
Eles declaram que sabem o que fazem, que tudo que fazem é para meu bem,
Sou tão fraco e eles tão poderosos, tão convencidos e eu tão dubitativo!
(Onde estou neste instante chove, escuto Sibelius, as neves da Finlândia
Ou de outra lugar qualquer onde a música seja assim: universal!
Um contraste dolorosamente verdadeiro com um campo de batalha!)
E eu que não quero pensar, penso que a vida é curta em demasia
Para quê bombardeiros de prata, navios de oiro,
Minas debaixo de papoilas?
(Escutasse Bach ou Schuberth, Saint-Saëns ou Erik Satie e sentiria os mesmos sentimentos
De viajante que se ajoelha quando atravessa um bosque já extinto,
E esquecido de si se julga uma mera sombra, um sopro de vento!)
Não sei se falo verdade, se minto,
Neste momento!
----Nozes Pires----11/03/2023
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