segunda-feira, 22 de maio de 2023

Poema- Não saibas a hora

 

Não saibas a hora

 

Um dia certo que o acaso ditará

Conforme as leis da matéria viva

Depressa ou devagar abandono, com pena,

Esta Terra empapada de servidões.

Cometa nenhum no céu anunciará a largada

Porque pequeno demais não mereço tal honra

Reservada às rainhas e seus consortes,

Nunca à classe dos construtores das pirâmides.

Aos escribas por ventura mereçam nas mortes

Que outros escribas lhes façam obituários

“Fulano de tal, nascido em tal de tal...”

E já enterrei mais um, diz o cangalheiro!

Assim é o mundo e o mais é fantasia

Declaração pacificadora do sacerdote que pastoreia as almas.

 

Nenhum eclipse imortalizará o funesto suspiro

Que os deuses decretam para os seus eleitos

Erguidos às alturas entre cânticos, anjos e palmas.

 

Para ti, não. Sem ti as Fúrias replicarão as lutas que travam

Enquanto Cronos devorará os filhos que vão nascendo

Porque assim é da natureza das coisas

Desde aquele tempo em que o Tempo se fez sem tempo

E o Espaço, seu irmão gémeo se expandiu e dobrou.

Aquele Acontecimento tão vasto que tu ao pé não és nada mais

Que um átomo que te fez a ti e logo fará outro

Como um escultor maluco que não tem mais que fazer.

 

Que esperavas? Cavalos igneos, cem virgens, uma harpa dolente?

Vai antes que seja tarde aspirar o aroma dos laranjais de Setembro

Saborear os maduros figos, colher rosas vermelhas,

E largar um grito

Que chegue aos outro lado do mundo

Tão agudo e lancinante que muitos outros iguais se oiçam em toda a parte!

Sonha o que quiseres, acredita no que precisares,

Contudo hoje o teu dever primeiro está aqui, à tua frente :

GRITA!

Para que este mundo não naufrague de repente!

 

 -----------Nozes Pires-----24/09/2022

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