Não saibas a hora
Um dia certo que o acaso ditará
Conforme as leis da matéria viva
Depressa ou devagar abandono, com pena,
Esta Terra empapada de servidões.
Cometa nenhum no céu anunciará a largada
Porque pequeno demais não mereço tal honra
Reservada às rainhas e seus consortes,
Nunca à classe dos construtores das pirâmides.
Aos escribas por ventura mereçam nas mortes
Que outros escribas lhes façam obituários
“Fulano de tal, nascido em tal de tal...”
E já enterrei mais um, diz o cangalheiro!
Assim é o mundo e o mais é fantasia
Declaração pacificadora do sacerdote que pastoreia as almas.
Nenhum eclipse imortalizará o funesto suspiro
Que os deuses decretam para os seus eleitos
Erguidos às alturas entre cânticos, anjos e palmas.
Para ti, não. Sem ti as Fúrias replicarão as lutas que travam
Enquanto Cronos devorará os filhos que vão nascendo
Porque assim é da natureza das coisas
Desde aquele tempo em que o Tempo se fez sem tempo
E o Espaço, seu irmão gémeo se expandiu e dobrou.
Aquele Acontecimento tão vasto que tu ao pé não és nada mais
Que um átomo que te fez a ti e logo fará outro
Como um escultor maluco que não tem mais que fazer.
Que esperavas? Cavalos igneos, cem virgens, uma harpa dolente?
Vai antes que seja tarde aspirar o aroma dos laranjais de Setembro
Saborear os maduros figos, colher rosas vermelhas,
E largar um grito
Que chegue aos outro lado do mundo
Tão agudo e lancinante que muitos outros iguais se oiçam em toda a parte!
Sonha o que quiseres, acredita no que precisares,
Contudo hoje o teu dever primeiro está aqui, à tua frente :
GRITA!
Para que este mundo não naufrague de repente!
-----------Nozes Pires-----24/09/2022
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